sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A MODERNIDADE DA ÁRVORE DE NATAL

De onde vem a idéia de enfeitar um pinheiro com luzes e esferas vermelhas no solstício de inverno no hemisfério norte em comemorações desde os tempos pré-cristãos?

O solstício de inverno significa o dia do ano com maior tempo de escuridão e menor tempo de luz, ou seja, o dia 23 de dezembro possui a noite mais longa do ano e desde tempos antigos este dia fora consagrado como um dia especial quando a luz interior, uma luz especial deveria ser acesa imaginativamente no ser humano no dia de menor luz exterior. Caso não consigamos entender o significado da festa de Natal em sua dimensão temporal e espacial, a festa se torna ainda mais incompreensível no hemisfério sul quando vivemos o solstício de verão. Nosso solstício de inverno brasileiro acontece durante a festa de São João, portanto são festas irmãs em termos de significado e complementaridade.

O resgate do significado das tradições é fundamental em nossa vida moderna, que vem se caracterizando pela crescente velocidade, pela falta de ritmos, pela desconexão da natureza e pelo enorme apelo ao consumismo que promove estas festas destituídas de sentido. O resgate dos significados dos símbolos permite, ao contrário, um processo de desaceleração em dias especiais, uma conexão aos ritmos da natureza que pode nos trazer uma reaproximação com a Terra e com nossos processos internos de desenvolvimento.

Segundo o filósofo Rudolf Steiner (1861-1925) a Árvore de Natal corresponde a uma fusão de duas arvores, ou melhor, de duas famílias botânicas com características bem distintas: uma conífera, especialmente o pinheiro, e uma rosácea, especialmente a macieira e a roseira, desde a cultura egípcia antiga pré-cristã.

As coníferas correspondem às árvores mais antigas de nosso planeta, ainda antes dos dinossauros no período geológico Carbonífero, existiam estas árvores de sementes nuas (as pinhas), literalmente classificadas como gimnospermas, representando até hoje as árvores de maior longevidade. As três árvores mais antigas catalogadas pelos estudos de seus anéis são três coníferas denominadas Prometheus, um Pinus aristata norte-americano de 5000 anos, Methuselah, um Pinus longaeva norte-americano de 4800 anos e Sarv-e-Abarkooh, um cipreste iranianao de 4000 anos. Estas árvores significam vida e representam a mítica ÁRVORE DA VIDA da mitologia judaico-cristã na criação do mundo no Jardim do Éden.

As rosáceas, bem mais recentes já no período terciário dos mamíferos gigantes correspondem às angiospermas modernas. Esta família se caracteriza por um lado pela sua enorme dureza e formação de acúleos e espinhos e por outro lado pela sua intensa formação de açúcar e néctar nas flores e frutos, revelando uma forte conexão com a terra e com o cosmos. Por esta razão e pela estrutura das sépalas, pétalas e sementes na forma de uma estrela de cinco pontas, as Rosáceas representam o SER HUMANO. Segundo o Steiner o ser humano é “aquele que possui o pé no chão e a cabeça nas estrelas”, com uma forma de pentagrama. A maça, cujo receptáculo da flor tornou carnudo e perfumado, mantendo consistência firme, na antiguidade assumiu a representação da esfera terrestre, generosa, altruísta para alimentar outras formas de vida. A macieira representou tanto o desenvolvimento humano que seu nome em latim é Mali, A ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL.

Ao contemplarmos a ÁRVORE DE NATAL, encontramos uma integração entre a ÁRVORE DA VIDA e a ÁRVORE DO CONHECIMENTO. No mito de Seth, encontrado nos escritos apócrifos do antigo testamento, existe uma referência a esta Árvore. Este mito se refere ao momento da morte de Adão, pai de Seth, Caim e Abel. Durante sua morte, Seth vai à procura de ajuda e regressa ao “Paraíso” guardado por um Querubim que permite que Seth adentre no Jardim do Éden, agora resguardado pelo Arcanjo Micael. Este por sua vez aponta para a Árvore existente no meio do Jardim, uma fusão das lendárias Árvores da Vida e do Conhecimento do Bem e do Mal que antes estavam separadas. Permite que Seth apanhe três sementes e volte a seu pai. Ao encontrá-lo, Seth introduz as sementes na boca do pai e simultaneamente ao processo de morte, se desenvolve uma frondosa Árvore de Luz que segundo Steiner será a Árvore fonte de três pontes entre a Terra e o Céu, os Portões do Templo de Salomão, o Cajado de Moisés e a Cruz do Gólgota.

Estas três Árvores também podem ser encontradas no desenvolvimento do corpo humano. Durante o período embrionário, a partir da invaginação dos dois anexos, o saco vitelino ventralmente e o saco amniótico dorsalmente, são formados o intestino primitivo e o tubo neural, respectivamente. Dentro de uma perspectiva analógica, o tubo digestório pode ser relacionado à Árvore da Vida, também representada como Figueira (além do Pinheiro), cujo fruto está na origem etimológica do órgão fígado, um dos “frutos” do intestino primitivo. O sistema nervoso central, continuidade do tubo neural, pode ser relacionado á Árvore do Conhecimento. A ponte entre as duas árvores nasce como um broto do intestino primitivo e se dirige em direção ao sistema nervoso, ou seja, a Árvore Respiratória, cujo ritmo se imprime numa pulsação no líquido cefalorraquidiano. Esta “árvore-ponte” consegue permear os dois níveis de consciência dos dois sistemas, seja acordando o sistema nervoso na inspiração, seja nutrindo o sistema digestório na expiração. A imagem no início deste artigo, copiada de um vaso etrusco, pré-grego, mostra a Árvore da Vida ventral e a Árvore do Conhecimento dorsal ao ser humano.

Além das duas árvores unidas, no inicio da era cristã, a Árvore de Natal recebeu uma orientação em conformidade com o mito de “desenvolvimento das três sementes ou dos três véus”, ou seja, com o caminho de desenvolvimento que os Vedas indús denominavam de Manas, Buddhi e Atma. Estes estágios representam, respectivamente, a transformação de nossas dimensões psico-animais, vegetativas e físico-minerais. Embora vários indivíduos tenham adquirido o estado de Manas, considerados santos (ou sãos literalmente), poucos conquistaram o estado buddhico e apenas aos 33 anos Jesus de Nazaré, segundo Steiner, completou o desenvolvimento das três sementes, fechando o ciclo do mito de Seth.

Desta forma, a receita tradicional medieval para montar uma Árvore de Natal é: um pinheiro (ou um bom galho), 33 maças, 33 rosas (30 vermelhas e 3 brancas), 33 velas com seus suportes e os símbolos dos planetas. Idealmente se enfeita na véspera a árvore e se cobre com um véu. Na noite de Natal o véu é retirado, as 33 velas são acesas na luz apagada e se comemora o Natal a luz de velas. Um ambiente maravilhoso se cria ao redor desta árvore cheia de significados. Os 33 frutos das rosáceas e as 33 velas representam os 33 anos de vida de Jesus Cristo, sendo que as 3 rosas brancas, colocadas no alto da árvore, correspondem aos três últimos anos após o batismo, anos de intenso desenvolvimento humano. Os planetas significam a ponte entre a terra e o cosmos.

A modernidade da Árvore de Natal se esconde em seu maior significado, ou seja, a busca da integração de um estilo de vida que integre a VIDA (vida do movimento, da alimentação, do sono e do lazer) com o CONHECIMENTO (vida do estudo, vida intelectual, vida cultural, vida profissional) num ritmo social que integre o profano e o sagrado a cada dia.


Feliz Natal com ritmo e significado!!!

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