sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Transnacionais espanholas devastam América Latina

26/11/2009 - 09h11
Por Robson Braga, da Adital


Apesar da suposta política de responsabilidade social, as transnacionais espanholas do setor turístico adotam, na América Latina, práticas bastante antigas de exploração econômica e socioambiental. A análise é do Greenpeace-Espanha, divulgado na segunda-feira (23/11), através do informe "Os novos conquistadores. Multinacionais espanholas na América Latina".



"As empresas espanholas têm se caracterizado por responder com pouquíssimas ou nulas modificações no modelo empresarial que já se conhecia aqui (na Europa), ou seja, de sol e praia massiva, exploração que tem passado do Mediterrâneo e [ilhas] Canárias para localidades virgens da América, especialmente do Caribe", considerou o Greenpeace.
Das 100 maiores empresas de turismo do mundo, 11 são espanholas, mostra o estudo. De 1993 até 1999, o número de hotéis espanhóis em outros países triplicou. Atualmente, já são 29 os grupos espanhóis ligados ao turismo com presença em 36 países.
Na América Latina, transnacionais espanholas exercem a atividade turística - responsável por 11% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial - de modo predatório, analisou o Greenpeace.
O organismo destacou as atividades da "Sol Meliá" (15ª no ranking mundial), da "Barceló" (24ª) e da "Riu" (27ª), empresas identificadas "como agentes exportadores de um modelo de predador que arrasa bosques de mangues e territórios virgens, especialmente no México".



O Greenpeace criticou a "extremada política de hipócrita Responsabilidade Social Corporativa" da Sol Meliá. Este ano, a empresa lançou um Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2008-2010, que pretende "integrar os valores de sustentabilidade no próprio negócio".

México: maior destino das transnacionais
É no México onde a situação se mostra mais crítica quanto à exploração empresarial espanhola. Há, no país, mais de 2.700 empresas de origem hispânica, estimuladas pelas condições oferecidas pelo governo local e nacional, pelos baixos custos de seguridade social e da mão de obra barata e, em parte, pouco organizada.

Somente no principal destino das empresas turísticas - na região de Riviera Maya, no Estado de Quintana Roo -, estão presentes as transnacionais a Sol Meliá, a Iberostar, a Riu, a Barceló e a NH. Em 2007, havia na região cerca de 35 mil hospedagens em mais de 100 hotéis, enquanto que, em 2001, eram 15 mil.
Como exemplo, o informe aponta a construção de complexos hoteleiros da Sol Meliá nas praias de X’cacel e X’cacelito, no Estado de Quinta Roo. Os projetos só foram suspensos Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) após a pressão de movimentos ambientalistas nacionais. Praticamente todas as zonas de mangue da Costa Turquesa foram devastadas, lamenta o estudo.



Recomendações
Para o Greenpeace, as empresas espanholas não deveriam adotar duplo padrão: "atuar de acordo com a normativa mais estrita em matéria social ou meioambiental, seja esta a lei de seu país de origem ou a do país onde opera". Quando vinculadas a atividades extrativas, elas devem responder pelos custos dos impactos socioambientais e participar de consultas com as comunidades locais, principalmente as indígenas.
O Greenpeace ainda recomendou ao governo espanhol que estabeleça mecanismos legais em casos de atuações ilícitas de transnacionais do país no exterior. O organismo também propõe que o Estado exija responsabilidade das empresas no processo de internacionalização, considerando a realidade social e econômica do país que receberá a transnacional.



O relatório do Greenpeace-Espanha avalia o impacto, na América Latina, de transnacionais espanholas de várias áreas, como o turismo, a mineração, o setor financeiro e petrolífero.
O documento completo está disponível em: http://www.greenpeace.org/raw/content/espana/reports/090930-03.pdf.

Nenhum comentário: